Monumento aos Combatentes
Artigo por
Sílvia Correia
Memórias Enredadas das Guerras e do Colonialismo.
Os monumentos nacionais aos mortos da Primeira Guerra Mundial e da Guerra Colonial, em Lisboa, obrigam-nos a questionar sobre os silêncios implicados nas políticas de memória – e a respetiva monumentalização – sobre as guerras contemporâneas e o passado colonial, enredando-os.
Na Primeira Guerra Mundial foram mobilizados mais de 11 mil soldados africanos e milhares de carregadores, na maioria violentamente recrutados. No fim da Guerra Colonial, o número de tropas localmente recrutadas atingiu quase metade do contingente. Nem o Monumento Nacional aos Mortos da Grande Guerra, inaugurado em Novembro 1931 na Avenida da Liberdade, nem a sagração de dois soldados desconhecidos em 1921, fazem menção aos soldados africanos. A escolha do 9 de Abril, dia da Batalha de La Lys, como data central para rememorar o esforço de guerra, revela políticas de memória centradas na experiência europeia.
Em contexto pós-colonial, a 15 de Janeiro de 1994, é inaugurado o Monumento Aos Combatentes do Ultramar, associando à homenagem todos os que se bateram em território colonial. A narrativa universalista – ou abstrata – do monumento é sublinhada pelo Memorial Aos Caídos Pela Pátria de 5 de fevereiro de 2000. Ao Forte do Bom Sucesso foram adicionadas placas talhadas com os nomes de cerca de 10 mil soldados mortos na Guerra Colonial, incluindo soldados africanos das Forças Armadas Portuguesas.
A capitalização política do esforço nas guerras revela que o projeto colonial é intrínseco ao nacionalismo português e a defesa armada do território da nação cumpriria o destino do exército nacional. Os monumentos aos mortos procuram petrificar, no espaço público – sublinhe-se público –, um sentimento de integridade territorial salvaguardada por seus heróis desejavelmente unívocos. As experiências-limite das guerras não colocaram em questão a continuidade de uma identidade nacional assente numa geografia imperial que se procura nostalgicamente eternizar. Porém, nem a memória é inequívoca, nem as estátuas inquestionáveis.
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