Decolonizar é confrontar narrativas: Romantização, nostalgia e o apagamento da escravidão

Essa fotografia de 1930 foi publicada em reportagem sobre o Museu Histórico Nacional, na seção “Relíquias Brasileiras”, da revista Selecta. Apresenta uma visada da então “Sala Antônio Prado Júnior”, dedicada às “Lembranças da escravidão”, como constava no título da matéria, que trazia um ar nostálgico e romantizado desse período tão doloroso da nossa história.
Em 1939, a denominação da sala foi modificada para “Sala Luís Gama”, lembrando o advogado abolicionista negro, que defendeu a liberdade de muitos escravizados, ainda que a disposição dos objetos e os textos ali expostos tenham se mantido sem alterações até pelo menos 1950.
No Guia do Visitante do Museu Histórico Nacional de 1955, o espaço não mais integrava o circuito de exposição, sendo reduzido a lugar de passagem. Seu acervo aparecia diluído em outras galerias ou esquecido em outros espaços do museu.
Segundo a reportagem de 31 de maio de 1930, a sala exibia “Ídolos africanos, caxambus, cerâmica, documentos alusivos à abolição, retratos de abolicionistas, […] envolta com pequenos objetos de arte colonial, as algemas, os viramundos, as grilhetas e os troncos das senzalas”.
Na fotografia se vê o Caxambu, tambor maior à esquerda, e Maria Cambinda – ícone desta exposição, à direita, objetos doados pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de Ouro Preto, em 1928. Sua localização no chão demonstra um “não lugar” dos objetos na exposição, uma vez desprotegidos e sem suporte para identificação e legendas explicativas.