Estação Terreiro do Paço
Artigo por
Paulo Peixoto
Estação Terreiro do Paço
A estação é um ponto num caminho entre lugares. Um ponto de partida. Um ponto de chegada. Um ponto de ancoragem. Um ponto de espera e de passos perdidos. Um ponto de passagem. Para uns, é um lugar sem retorno. Um lugar de despedidas, de lágrimas incontidas, de sorrisos fingidos. Para outros, é um lugar de perpétuo retorno. Um lugar frígido, banal, um não-lugar. Na estação, quando partimos, viramos as costas à cidade e deixamos um mundo para trás. Quando chegamos, a cidade é um novo mundo que se abre, sendo, a um tempo, tragédia e esperança civilizacional. Por isso, uma estação é bem mais que um ponto num caminho entre lugares. É também um ponto a partir do qual há sempre um novo universo que emerge.
Encarada deste modo, a estação do Terreiro do Paço é peculiar, sendo uma realidade de geometria variável que engloba edifícios e infraestruturas que se sucedem e se combinam ao longo de um século. A sua localização e a sua evolução fazem dela um palco de manifestação das epistemologias patrimoniais da cidade de Lisboa.
Na sua configuração e dimensão memorial, enquadrada pelo Cais das Colunas, a Estação Terreiro do Paço ecoa a proximidade aos corredores do poder. Aí, em março de 1896, desembarcam Ngungunhane e a sua família, exibidos em cortejo como troféu de uma guerra colonial que foi mais longa que aquela que teve início em 1961. Aí chegam e se aglutinam muitos daqueles que, em 27 de agosto de 1963, enchem o Terreiro do Paço e ruas adjacentes para aclamar os discursos proferidos por Salazar e seus partidários na varanda do Ministério do Exército e para apoiar a política ultramarina portuguesa. E é também aí, numa mancha que se estende ao longo da margem direita do Tejo, que, 14 anos mais tarde, se amontoam os haveres e os dramas que configuram a crise dos retornados, caracterizada pelo “regresso” abrupto de cerca de meio milhão de pessoas.
O conjunto que atualmente dá forma à estação Terreiro do Paço aglutina fluxos ligados às dinâmicas do turismo e a dinâmicas pendulares ligadas ao trabalho, constituindo um palco, por excelência, dos processos que caracterizam a Lisboa contemporânea e que a ligam ao mundo e à sua área metropolitana.
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