Galeria de Arte Pública na Quinta do Mocho

A Quinta do Mocho é um bairro de população afrodescendente portuguesa, migrante africana e europeia, localizado em Loures, na periferia nordeste de Lisboa. Teve origem no Portugal pós-revolucionário e surgiu de uma dupla tendência: por um lado a necessidade de mão-de-obra, por outro, a chegada de pessoas das antigas colónias em África. De facto, o trabalho na construção de infraestruturas e nos serviços feito por imigrantes de origem africana foi um contributo substancial para a modernização de Portugal e para alcançar, em 1986, a integração do país na União Europeia.
Na década de 1980 a Quinta do Mocho era constituída por alguns prédios inacabados e outras habitações autoconstruídas a sua volta, sem condições de vida saudáveis e seguras. A população cresceu até rodear as quatro mil pessoas e, a partir de 2000, foi transferida para um novo bairro planeado de raiz com 91 edifícios no âmbito do Programa Especial de Realojamento. Porém, a precariedade laboral e social, a falta de serviços e a exclusão social facilitaram o nascimento de tensões interétnicas e casos de violência. A comunicação social enfatizou questões de carácter sensacionalista retratando a Quinta do Mocho como um lugar “problemático”, inseguro e um espaço a evitar. A sua gente foi, assim, isolada como reflexo do lugar em que vivia.
A perspetiva mudou em 2014 graças ao protagonismo da população local. Neste ano o município organizou um festival intercultural no bairro durante o qual inaugurou aquela que veio a tornar-se uma das maiores galerias de arte pública do mundo (colecionando 139 graffiti e obras de arte de artistas nacionais e internacionais na data 28 de fevereiro de 2021). A transformação social gerada pela arte foi impulsionada pelas visitas guiadas protagonizadas pela população que – junto com as obras – quis apresentar as suas culturas, comunidades e individualidades, renovando a imagem do bairro que finalmente foi reconhecido como parte digna e importante da cidade.