• © Pedro Medeiros, Instituto Marquês de Valle Flôr, 2021

Palácio Marquês de Valle Flôr

Artigo por
Miguel Bandeira Jerónimo e José Pedro Monteiro

Palácio Valle-Flôr (Vale Flor)

A reapreciação crítica do fenómeno colonial tem gerado muitos debates nas sociedades contemporâneas. Sobre as principais facetas do fenómeno colonial, diverso e multiforme de um ponto de vista histórico e geográfico, muito tem sido escrito. Menos elaborada tem sido a análise dos legados do colonialismo. Esta tem vivido, em demasia, de grandes declarações e “teses” sumárias, de dados tomados por adquiridos mas debilmente investigados ou demonstrados. Pode não parecer, dada a torrente e intensidade das opiniões a este respeito, mas há muito por estudar sobre os legados do colonialismo, sobretudo em Portugal. Sobre a multiplicidade de processos históricos a partir dos quais estes se formaram e persistiram no tempo, do plano económico-financeiro ao cultural, passado pelos “legados físicos”. Noutros contextos, são várias as iniciativas que procuram explorar, e avaliar, os inúmeros prolongamentos históricos dos passados coloniais, ponderando as formas de os tornar públicos, de modo rigoroso, permitindo assim que o debate, necessário, sobre os presentes do passado ocorram de modo informado e facilitem processos de tomada de decisão política sobre várias questões fundamentais para o desígnio partilhado de criar sociedades mais inclusivas e democráticas.
Se comparadas a extensão, o carácter sistemático e a profundidade, o mesmo não tem sucedido em Portugal. A produção, inventariação e divulgação de saber sobre o património cultural e histórico em Portugal continuam a ser pouco guiadas por estas preocupações. Não é conhecida uma única orientação que promova uma apreciação do património cultural por si classificado, com deveres de “salvaguarda”, “conservação”, “valorização” e “divulgação”, em função da existência, ou não, de conexões históricas desse património com dinâmicas coloniais, de resto diversas. Esta devia ser uma prioridade, por várias razões, não apenas as de relevância pública evidente. São vários os imóveis que se deveriam prestar a esse exercício, em Lisboa e pelo resto do país. Vários são visitados por milhares de turistas, muitas vezes com acesso limitado a informação básica sobre a sua história. Urge, para cada um deles, uma história que extravase descrições “técnicas”, em si muito importantes, mas insuficientes. Uma história que substitua “notas histórico-artísticas” pouco elaboradas e, em alguns casos, manifestamente omissas face a questões fundamentais. O Palácio Vale Flor é um bom exemplo destas questões.

Galeria

  • © Pedro Medeiros, Instituto Marquês de Valle Flôr, 2021

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