• Maquete do Memorial com vista do alto. Projeto do artista Kiluanji Kia Henda, com colaboração do arquitecto Paulo Moreira. Cortesia do Artista.

Memorial em homenagem às Pessoas Escravizadas

Artigo por
Cristiano Gianolla

Memorial de homenagem às pessoas escravizadas

“Plantação – Prosperidade e Pesadelo” é o nome do Memorial de homenagem às pessoas escravizadas que enriquece o património de Lisboa sobre um lado sensível da história colonial. Foi pensado como lugar de comemoração, reflexão, debate e interação para reconsiderar o papel de Portugal na escravatura e enfrentar os limites que esta história impõe na contemporaneidade. Localizado no local do poder central da expansão colonial portuguesa, o monumento pretende manifestar a relação entre a riqueza colonial e a subjugação racial, rescrevendo criativamente a quotidianidade de Lisboa, aprofundando a representação da história e fortalecendo a justiça social. A história da presença africana, e a dimensão escravista, está quase completamente ausente do panorama monumental lisboeta. O Memorial foi pensado para colmatar esta ausência abrindo caminho para refletir sobre a relação entre Portugal e escravatura, assim como prestar homenagem aos milhões de pessoas que foram escravizadas.
O lugar escolhido pela instalação é o Largo José Saramago, historicamente conhecido como Campo das Cebolas, na ribeira do rio Tejo. O Memorial surge pela iniciativa da Djass – Associação de Afrodescendentes, que em 2017 apresentou o projeto no orçamento participativo da zona centro de Lisboa e obteve o maior número de votos. A obra é do artista Angolano-Português Kiluanji Kia Henda, que “almeja construir um lugar de memória, aberto à reflexão. Procura-se que no centro da angústia estejam abertas as vias do encontro, apontando para novas criações e novas possibilidades de convivência”. Beatriz Gomes Dias, ex-presidente da Djass, considera que o Memorial serve para debater a justiça social contrapondo-se ao silenciamento das raízes do racismo, afirmando que a história da escravatura não relata apenas eventos históricos: ela tem um impacto na cultura, na sociedade e na política portuguesas contemporânea. Remapear a presença negra na história de Portugal deve servir para prestar homenagem e celebrar estas pessoas violentadas pela história e que contribuíram incomensuravelmente com o seu trabalho e com a sua vida. Dias afirma que o Memorial ambiciona disputar a hegemonia da narrativa que domina a paisagem do património lisboeta e que permeia a cultura nacional, por outro lado afirma que ele serve para fortalecer a subjetividade política das pessoas africanas e afrodescendentes em Portugal. O monumento constitui um espaço para “poder compreender as origens do racismo contemporâneo e as continuidades históricas que existem entre o que foi o período de escravatura do projeto colonial português e o racismo contemporâneo”.

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