• © Pedro Medeiros, Rosa dos Ventos, 2021

Rosa dos Ventos

Artigo por
José Pedro Monteiro

Rosa-dos-Ventos

Resumo:

Aquando da reconstrução definitiva do Padrão dos Descobrimentos, por ocasião das comemorações henriquinas, em 1960, à sua frente, gravada na calçada, foi encrustada uma peça que retrata simbólica e evocativamente, por via de uma Rosa-dos-Ventos, a “gesta” da expansão imperial portuguesa. A Rosa-dos-Ventos é, quotidianamente, vista e admirada por turistas, curiosos ou simples transeuntes, mais ou menos alheios à história deste mesmo pedaço de calçado, ao seu contexto de produção e ao seu uso, diverso, ao longo do tempo. Esta, contudo, sobretudo se se ater ao seu contexto de produção (e financiamento), remete menos para as aventuras de exploração portuguesas pelo mundo, mas para situações históricas e políticas precisas, mais recentes: em particular, o chamado processo (plural e prolongado) de descolonização global. A Rosa-dos-Ventos foi uma oferenda do governo da África do Sul num momento crítico para os projectos de supremacia branca no continente africano. Será a partir deste elemento que se poderá, como se tenta neste texto, procurar perceber o vasto repertório, simbólico e material, que tanto esse país como o império português mobilizaram para resistir aos “ventos de mudança”, frequentemente com esforços conjuntos, apesar de várias tentativas de diferenciação que os portugueses ensaiaram face aos congéneres sul-africanos. É também uma janela a partir da qual se pode melhor compreender a contestação que, a partir da década de 1960, se fez sentir sobre os dirigentes das duas formações políticas, em Luanda, em Pretória, mas também em Accra, Londres ou Nova Iorque. É, por fim, o ponto de partida para uma interrogação sobre as formas como o passado pode ser usado para neutralizar interpretações políticas evidentes e dos seus efeitos duradouros na forma de pensar e representar comunidades, grupos e ideias.

 

Galeria

  • © Pedro Medeiros, Rosa dos Ventos, 2021

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