• Maria Cambinda como alegoria do continente africano na vitrine sobre a Expansão Marítima Portuguesa. MHN, Rio de Janeiro, Brasil

Intervenção 7

Decolonizar é contar histórias silenciadas: Maria Cambinda, protagonismos negros no Brasil

Decolonizar é contar histórias silenciadas: Maria Cambinda, protagonismos negros no Brasil

Foi como uma boneca chamada Maria Cambinda que este objeto chegou ao Museu Histórico Nacional (MHN), em 1928. Foi doada por Odorico Neves, então juiz da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário [dos homens pretos] de Ouro Preto. Na época, após a Irmandade passar por um processo de embranquecimento – vide a própria retirada “dos homens pretos” do seu título e o fato de o cargo de juiz ser ocupado por um homem branco da elite da cidade – desfez-se dos objetos que não tinham relação com os cultos católicos. A doação foi aceita por Gustavo Barroso, então diretor do MHN, que inspecionava a obra de restauração dessa igreja.
No MHN, Maria Cambinda foi exposta no chão da Sala Antônio Prado Júnior, depois chamada Luís Gama.
Após longo tempo sem ser exposta parecia não existir mais, pelo apagamento de suas informações (nome, origem, data, etc) na sua documentação. Como “Deusa da Fertilidade”, retornou à exposição em 2009, ocupando esta vitrine sobre a Expansão Marítima Portuguesa. Foi tomada como uma alegoria do continente africano, embora tenha sido feita em Minas Gerais e no século XIX.
É provável que Maria Cambinda seja tanto uma boneca, quanto uma máscara, e que seu uso estava relacionado aos festejos promovidos pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Seu recorte, abaixo do ventre, teria sido feito para melhor encaixe ao corpo da pessoa que a carregava para interagir com o público nessas ocasiões. É possível que fosse vestida com tecidos ou palhas, a exemplo de máscaras usadas em rituais na Guiné, na África, como a da deusa Nimba.
Mais do que uma alegoria, Maria Cambinda representa a história de resistência à escravidão, solidariedade e sociabilidade dos negros de Ouro Preto, que atuaram na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, onde encontravam assistência à saúde e aos funerais, além da chance de libertação por meio da ajuda mútua para compra de alforrias.

Galeria

  • Maria Cambinda. MHN, Rio de Janeiro, Brasil

  • Maria Cambinda como alegoria do continente africano na vitrine sobre a Expansão Marítima Portuguesa. MHN, Rio de Janeiro, Brasil

  • Legenda do circuito permanente de exposições do MHN, Rio de Janeiro, Brasil

  • Intervenção com Maria Cambinda em destaque na vitrine. MHN, Rio de Janeiro, Brasil.

  • Intervenção com Maria Cambinda em destaque na vitrine. MHN, Rio de Janeiro, Brasil.

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